Shattered Union

Em uma indústria concorrida como é a do entretenimento eletrônico, as produtoras estão sempre buscando elementos que deixem seus títulos mais elaborados. Contudo, não é raro o tiro sair pela culatra. E o resultado são jogos excessivamente complicados, que acabam tendo o efeito inverso, ou seja, espantam ao invés de atrair."Shattered Union", por outro lado, exibe a simplicidade como uma de suas principais virtudes, deixando de lado recursos elaborados para oferecer uma divertida e desafiadora experiência de estratégia em turnos, acessível a qualquer pessoa que aprecie jogos inteligentes.Guerra civilA premissa, por si só, é das mais interessantes, baseando-se em uma guerra civil instalada nos Estados Unidos: o grande aumento do terrorismo, dos confrontos internos e, principalmente, a destruição de Washington, D.C. por uma bomba nuclear, deixaram o país em frangalhos. Agora, sete facções dividem o território dos EUA e travam uma feroz batalha pelo domínio soberano.Nessa verdadeira salada geopolítica há espaço para a Aliança Nova Inglaterra, para a República do Texas e até mesmo para a União Européia, que resolveu meter o seu bedelho na guerra, principalmente quando viu aumentar a instabilidade no planeta por causa do conflito.A campanha consiste em um mapa dos Estados Unidos com os territórios divididos entre as facções. Como você já deve imaginar, o objetivo é dominar o país por completo, uma tarefa que consome longas horas de jogatina, além de muito esforço e queima de neurônios.Não tem muito mistério. É puramente um jogo de ataque e defesa. Claro que existe uma porção de gerenciamento de unidades - que, por sinal, é muito importante. Cada turno, de acordo com os territórios dominados por você, rende uma certa quantidade de dinheiro, que deve ser empregada na manutenção e expansão do seu exército.São nove tipos de unidades: infantaria, blindagem leve, blindagem pesada, antiaérea, artilharia, helicóptero, aeronave, reconhecimento e as de uso único. Cabe a você balancear bem sua tropa, pois há muitas variáveis que definem quando e como determinadas unidades podem ser úteis ou não.A infantaria leve, por exemplo, tem poder de fogo e defesa praticamente insignificantes, mas são boas para reconhecer terreno, afinal, custam pouco; já as antiaéreas praticamente se justificam sozinhas, pois são uns dos poucos meios de se atacar helicópteros e aeronaves; quanto aos veículos de blindagem pesada, não há nada mais poderoso que eles em solo, mas não espere muita velocidade.De uma maneira em geral, cada facção conta com o mesmo layout de unidades, mas têm lá as suas exclusivas também. Além disso, elas possuem características próprias, como facilidade na defesa, predisposição para ganhar mais dinheiro e por aí vai.Hora HSelecionadas as unidades - ou determinando que o computador faça isso por você -, basta escolher o território desejado e atacar. Então, o jogo passa para a batalha tática, no mapa, aonde acontece a ação propriamente dita. O sucesso não está apenas em atacar o adversário com a unidade mais apropriada, pois há outros fatores que influenciam tanto quanto isso.A quantidade de combustível das unidades é limitada e, se acabar, você estará seriamente encrencado, pois obviamente não poderá se locomover. O reabastecimento é automático, mas, para que aconteça, é preciso estar a uma certa distância dos adversários, o que significa recuar - e, por conseqüência, dar-lhes espaço para se reorganirem.Também convém que o máximo de unidades sobrevivam às batalhas, já que elas adquirem pontos de experiência. Na tela de gerenciamento, basta fazer os reparos necessários para deixá-las novas em folha.Porém, existe um aspecto essencial que não deve ser esquecido em momento algum: as unidades utilizadas em uma batalha são colocadas fora de ação pelo restante do turno. Em outras palavras, de nada adianta atacar o inimigo com força total, pois você fica sem defesas para eventuais (e muito prováveis) contra-ataques. Então, é preciso balancear as investidas com bastante sabedoria."Shattered Union" poderia ser ainda mais interessante não fosse a ausência de aspectos diplomáticos, que simplesmente não existem. Cá entre nós, alianças e traições são ingredientes essenciais para causar surpresas (agradáveis ou não) e, principalmente, para dar mais autonomia aos participantes do conflito.PoliticagemPor outro lado, há a reputação política, um medidor baseado em seu desempenho e escolhas no campo de batalha. Sim, porque os confrontos do jogo são ambientados em mapas baseados em locais famosos dos Estados Unidos, como cidades e monumentos. À medida que os danos infligidos no mapa são definitivos, causar muita destruição pode jogar sua reputação no limbo.Isso é ruim? Depende. De fato, uma má fama fará com que unidades neutras o ataquem com mais disposição, por exemplo. Por outro lado, há os poderes especiais, disponibilizados ao longo de jogo. Se a sua reputação política for boa, os poderes a você concedidos serão politicamente corretos, como a possibilidade de curar unidades aliadas, por exemplo. Entretanto, uma má reputação lhe rende recursos igualmente nocivos, capazes de causar destruição.Terminada a campanha, resta jogar em modo skirmish ou então através do multiplayer, via rede local e internet no PC, e via Xbox Live, no Xbox. Ambos aceitam dois jogadores simultâneos.Com um pouco mais de capricho, "Shattered Union" poderia galgar um status maior que apenas o de "bom jogo". Além da falta de diplomacia, o modo campanha não aproveita o bom enredo como poderia. O resultado é que, passado o vídeo de apresentação, as batalhas são essencialmente todas praticamente iguais. Sendo assim, em alguns momentos, o game é mais enjoativo que viciante.Além disso, os ângulos escolhidos pelo jogo na hora dos combates são muitas vezes precários, os tutoriais estão disponíveis apenas em vídeo (não-jogáveis) e a inteligência artificial, embora até proporcione batalhas memoráveis, ainda assim comete erros primários e inexplicáveis, fazendo as piores escolhas possíveis para a situação.